Se a minha tristeza tivesse boca
Gritava ao mundo poesias ocultas chorando
Lágrimas encarnadas confusas,
Se capaz fosse a minha depressão de enxergar
Seriam vistas as mais feias e horrorosas imagens de terror…
Mas que dói,
Ai sim, dói… Demais…!
Quero rasgar este sofrimento cruel!
Tirar de mim desgraças nauseabundas,
Este nojo que percorre cada gotícula do meu suor…
Não sei! Não sei! Não sei!
Desconheço qualquer sonho além do pesadelo
Que perturba a minha mente dolorosa, cansada…
Ai, se me fosse possível morrer agora…
Se a minha dor tivesse lábios
Beijaria cada recanto de uma prisão suja, sombria, fria…
Se a minha dor tivesse braços
Ela me abraçaria com tanta força até mesmo depois
De ossos se quebrarem e de sangue jorrar entre gritos!
Se o meu sofrimento fosse uma bala,
Repartiria por três… Matava de uma vez…
Deixem-me… Atormentar…
Permitam-me… Aniquilar…
Oh, se a minha depressão fosse alguém,
Se a minha dor fosse outro alguém,
E se a minha tristeza fosse ainda outro alguém…
Caramba, ainda me tenho a mim para abater…
Ainda tenho uma réstia de sangue memorizada na pele…
Ainda… Ainda o quê?
Que resta de uma carne que sobra no prato?
Que fazer daquela miserável que se esconde entre panos
Ensanguentados, suados, molhados e da mais porcaria
Que podes ver…?
Ai… Se possível…
Se fosse capaz…
Se tudo o que me percorre fosse possível de falar,
Detalharia um livro gasto, se fosse capaz de andar,
Apanhava a próxima estação…
Até a depressão se cansa de viver…

